O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira (29/11) que o Brasil quer ser conhecido daqui a dez anos como “a Arábia Saudita da energia verde” — em referência ao país que é hoje o maior produtor de petróleo do mundo.
“Daqui a dez anos, o mundo vai dizer que se a Arábia Saudita é o país mais importante na produção de petróleo e de gás, daqui a dez anos o Brasil será chamado de ‘a Arábia Saudita da energia verde, da energia renovável'”, disse Lula em visita à Riad, capital do país árabe.
Poucos dias antes de participar da conferência da ONU sobre o clima (COP28) nos Emirados Árabes, Lula fez um giro por outros dois países da região: Arábia Saudita e Catar.
Em ambos os países, a principal pauta foram os laços econômicos do Brasil com o Oriente Médio.
Em Riad, Lula participou de dois grandes eventos empresariais — um organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e outro pela Embraer. Ambos os eventos foram feitos em colaboração com o governo saudita.
O presidente também ficou reunido por três horas com o príncipe herdeiro e líder de facto da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, com quem jantou na terça-feira. A principal pauta dessa reunião foram os laços econômicos entre os países.
No fórum de empresários sauditas e brasileiros em Riad, estiveram presentes grandes líderes empresariais do Brasil, como os presidentes da Vale, Petrobras, Embraer, BTG Pactual, XP Investimentos, BR Foods, JBS, além do presidente da Fiesp, Josué Gomes.
A Arábia Saudita é a maior economia do Oriente Médio e uma das mais ricas do mundo. Essa riqueza foi construída à base da exportação de petróleo. Mas, nos últimos anos, o país vem tentando diversificar sua economia, além de trabalhar em uma transação de longo prazo para outras fontes de energia.
Além disso, bin Salman está promovendo reformas sociais no país, com maior abertura para negócios e relações internacionais.
Segundo o governo saudita, a diversificação é o objetivo central no planejamento do país hoje.
Antes de Lula discursar para os empresários, um representante do Public Investment Fund (PIF) falou à plateia sobre a importância de “alinhar os objetivos” da Arábia Saudita com as prioridades ambientais mundiais.
O PIF, controlado pelo príncipe herdeiro, é um dos maiores fundos soberanos do mundo, com valor estimado em US$ 776 bilhões.
A expectativa das autoridades brasileiras é que o país possa ampliar a sua participação no fundo.
Na sequência, Lula falou sobre a ambição brasileira de se tornar a “Arábia Saudita da energia verde” e foi aplaudido pelas autoridades e empresários.
“Temos alguns compromissos firmados. Primeiro, queremos chegar ao desmatamento zero até 2030 na Amazônia. E, em segundo, nós vamos fazer todo o possível para fazer o Brasil o centro do mundo na produção da energia alternativa”, disse Lula.
“Acho que nós precisamos todos trabalhar com muita responsabilidade para descarbonizar o planeta, para que possamos viver de forma mais digna, com melhor qualidade de vida e sem medo de estarmos destruindo a casa onde moramos.”
Banco dos Brics
Lula lembrou que quando visitou a Arábia Saudita em 2009 — a primeira viagem de um presidente brasileiro ao país — as relações entre os dois países eram pequenas, mas cresceram ao longo dos anos.
Um dos pontos altos da relação, segundo o presidente, foi a adesão da Arábia Saudita aos Brics, grupo de países emergentes formado por Brasil, China, Índia, África do Sul e Rússia.
Mas Lula fez questão de cobrar uma participação dos sauditas no Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como “Banco dos Brics”, hoje presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff.
“Eu disse ao príncipe herdeiro que a entrada da Arábia Saudita nos Brics leva em conta o fato de que a Arábia Saudita precisa ajudar a fortalecer o banco dos Brics, para que a gente possa mudar a faceta dos bancos multilaterais para que eles possam tratar de financiar o desenvolvimento dos países mais pobres sem taxas de juros escorchantes que termina por matar qualquer possibilidade de investimento dos países.”
Apesar da cobrança por recursos, Lula disse que a relação econômica não é apenas uma mão de via única, e que o Brasil não está apenas buscando dinheiro saudita: também há empresas brasileiras interessadas em investir na Arábia Saudita.
“Nós não queremos apenas vender, nós também queremos comprar de vocês”, disse Lula em seu discurso.
“Não é apenas saber quanto que o fundo da Arábia Saudita pode investir no Brasil, mas saber também quanto que os empresários brasileiros podem investir nessa troca.”
A Arábia Saudita é o 29º maior destino das exportações brasileiras. Já o Brasil é o 13º maior destino das vendas sauditas.
Nos últimos anos, houve alguns anúncios de investimentos privados entre os países.
No município gaúcho de Triunfo, está sendo expandida uma fábrica de borracha da Arlanxeo, subsidiária da Saudi Arabian Oil Company, com investimento previsto de US$ 96 milhões.
Neste ano, a Saudi Agricultural and Livestock Investment Co. (Salic), uma empresa estatal da Arábia Saudita, e a brasileira Marfrig concordaram em comprar até US$ 890 milhões em novas ações da BRF, empresa transnacional brasileira do ramo alimentício.
A transação daria à Salic uma participação entre 10% e 15% na BRF.
O banco de investimentos brasileiro BTG Pactual abriu um escritório em Riad para levantar capital da Arábia Saudita e de outros países para investimentos na América Latina.
Segundo o Itamaraty, em termos de fusões e aquisições, os setores que mais interessam às empresas árabes são proteína animal, infraestrutura, aviação e hotelaria.
E para o Brasil, existem oportunidades para investimentos na diversificação econômica da Arábia Saudita.
No ano passado, a brasileira BRF inaugurou uma planta de processamento de aves da BRF na cidade de Damman.
Israel-Hamas
O assessor especial da Presidência Celso Amorim confirmou à BBC News Brasil que Lula e o bin Salman falaram em linhas gerais sobre o conflito entre Israel e Hamas no longo encontro que tiveram na terça-feira (28/11). Mas o foco principal da conversa foram os laços bilaterais.
Nos discursos que fez em Riad, Lula fez apenas alusões indiretas ao conflito.
“Nós estamos falando em crescimento econômico e desenvolvimento quando uma parte do mundo fala em guerra. A guerra não traz nada a não ser miséria e morte. A não ser destruir aquilo que as pessoas com muito sacrifício construíram.”
“Quando um país chega a decretar guerra, é porque ele está decretando a falência da capacidade do diálogo. E eu nasci na política fazendo diálogo. É muito mais barato, sensato e eficaz você perder algumas horas numa mesa de negociação do que você sair atirando a esmo, matando inocentes, mulheres, crianças e homens”, disse o presidente, sob aplausos.
Para a imprensa, Lula disse que já conversou duas vezes com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sobre a crise no Oriente Médio e está disposto a falar novamente, caso eles se encontrem na COP28.
Fonte: BBC língua portuguesa