Porta Voz do UNICEF: ‘Em 20 anos, nunca vi tantas crianças com ferimentos de guerra como em Gaza – mundo está perdendo o impulso natural de proteger as crianças’

Um representante do Unicef ​​na Faixa de Gaza diz nunca ter visto tantas crianças tão gravemente feridas numa guerra.

“Nos meus 20 anos na Unicef, acho que nunca vi tantas crianças com ferimentos de guerra”, disse à BBC James Elder, porta-voz da organização que chegou à Faixa de Gaza há poucos dias.

No domingo, Elder visitou a parte norte do território, a mais atingida pelos ataques de Israel em resposta ao assassinato e sequestro de israelenses pelo Hamas em 7 de outubro.

“Quando um morteiro atinge seu prédio, sua casa, são múltiplas as lesões causadas em uma criança. São ossos quebrados, mas também são [feridas de] estilhaços, são queimaduras horríveis para as crianças”, acrescentou.

Elder descreveu os hospitais no norte da Faixa de Gaza como “zonas de guerra”, onde estacionamentos e espaços ao ar livre estão repletos de salas de emergência improvisadas.

“As crianças nos hospitais precisam de muito mais suprimentos médicos do que os que recebemos. (…) Os médicos precisam desses itens com urgência. Estou vendo médicos nas salas de emergência tomando decisões enquanto fazem um cálculo entre quem pode sobreviver e quem não sobrevive, e isso inclui crianças”, disse Elder.

“Estive ontem numa igreja no norte, num hospital que também foi atingido [por projéteis]. É uma sala de emergência. Falei com um menino de 7 anos, que perdeu a mãe, perdeu o pai e o irmão gêmeo. E perguntei à tia dele: ‘Por que ele está constantemente fechando os olhos enquanto fala?’ E ela disse: ‘Ele está com tanto medo de esquecer como sua mãe e seu pai eram que ele quer fechar os olhos e continuar a ‘imaginá-los, não os perder em sua mente como os perdeu na vida real'”, narrou Elder.

“Infelizmente, estas histórias estendem-se de norte a sul por toda a Faixa de Gaza”, disse ele.

James Elder
James Elder, no sul da Faixa de Gaza, em entrevista à BBC

Entre o início do conflito e 22 de novembro, estima-se que mais de 5.300 crianças tenham morrido na Faixa de Gaza em consequência da guerra, segundo números divulgados pela Unicef.

A organização de defesa das crianças também disse ter relatos de que cerca de 1.200 crianças ainda estão sob os escombros.

“A destruição de Gaza e o assassinato de crianças não trarão paz à região”, disse Elder.

Do lado israelense, o governo relatou cerca de 1.200 mortes nas mãos do grupo islâmico Hamas.

“Hoje, a Faixa de Gaza é o lugar mais perigoso do mundo para ser criança”, declarou a diretora executiva do UNICEF, Catherine Russell, diante do Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira, 22 de novembro.

Elder questionou se o mundo está perdendo o “impulso natural” de proteger as crianças e pediu que Israel proteja os mais jovens.

Fonte: BBC

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