A Argentina fechou 2023 com a maior inflação anual do mundo, vivendo um aumento de preços de 211,4%. Especialistas especulam se a fase atual do país pode gerar uma onda migratória.
Javier Milei, que assumiu o país em dezembro, viu o percentual inflacionário dobrar em relação ao mês anterior, quando estava na casa dos 13%. No mesmo mês de dezembro, marcado pelas festas de fim de ano, o comércio argentino viu as vendas de alimentos e bebidas declinar 19,8% em relação ao mesmo mês em 2022, conforme dados da Confederação Argentina da Média Empresa (Came).
Com os índices econômicos ruins, argentinos consomem menos alimentos. Isso, somado às tensões entre as decisões do Executivo argentino e setores da sociedade, como as centrais sindicais — uma greve geral foi convocada para esta quarta-feira (24) e tomou as ruas de Buenos Aires —, deixam incertezas sobre o futuro da população do país. Emigrar poderia ser o próximo passo para essas pessoas?
Segundo Igor Lucena, economista e doutor em relações internacionais, uma onda migratória é pouco provável, uma vez que as pessoas “não migram porque estão em uma situação difícil naquele momento, mas porque elas não têm perspectivas de melhoras”.
Na visão do economista, para a maior parte dos argentinos há expectativas de melhoras.
“Existe na sociedade argentina a expectativa que os planos podem dar certo, as pessoas vão pagar para ver, e elas vão pagar para ver porque a maioria votou no Javier Milei sabendo dessas políticas radicais que seriam implementadas”.
Em relação a ter o Brasil como futuro destino em uma possível onda migratória, Rafael Rezende, doutor em sociologia e pesquisador de pós-doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que o governo brasileiro não deve se preocupar.
“É claro que com a crise econômica vai haver imigração de argentinos para o Brasil, mas não num número que possa prejudicar ou causar algum efeito realmente sensível no nosso mercado de trabalho.”
Em 2023, de acordo com dados do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), mais de 6,1 mil argentinos fizeram registros como residentes ou temporários para morar no Brasil.
Conforme números do Datosmacro, portal que publica informações socioeconômicas e demográficas, a população emigrante da Argentina era de mais de 1 milhão de pessoas em 2020 (registro mais atual). Entre os principais destinos, o Brasil era apenas a oitava opção. A escolha favorita dos argentinos era a Espanha e a Itália.
Fonte: Sputink Brasil