Apesar do anúncio de “pausas humanitárias” nos combates, Israel mata 62 em Gaza

Ataques israelenses continuam durante cessar-fogo parcial; mortes por fome crescem, e ajuda humanitária é insuficiente diante da catástrofe imposta pelo bloqueio

Mesmo após o anúncio de Israel de “pausas táticas” nos combates entre 10h e 20h para permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza, ao menos 62 palestinos foram mortos por ataques israelenses neste domingo (27), segundo autoridades médicas locais. Dentre as vítimas, 34 eram pessoas que buscavam ajuda humanitária.

As áreas supostamente incluídas na pausa — al-Mawasi, Deir el-Balah e Gaza City — continuam sendo alvo de ofensivas. O Ministério da Saúde do enclave ainda confirmou seis novas mortes por desnutrição, agravando o colapso humanitário.

Fome como arma de guerra

A Organização Mundial da Saúde (OMS) denunciou que a situação nutricional em Gaza está em “trajetória perigosa”. Quase uma em cada cinco crianças menores de cinco anos na cidade de Gaza sofre de desnutrição aguda. Segundo a agência da ONU, as mortes provocadas pela fome são “totalmente evitáveis” e decorrem de bloqueios deliberados à entrada de comida, água, combustível e medicamentos.

“O bloqueio e o atraso deliberados de ajuda humanitária em larga escala custaram muitas vidas”, alertou a OMS, reiterando que a única resposta viável é o aumento urgente e contínuo do envio de suprimentos por terra.

Ajuda aérea: perigosa, ineficiente e insuficiente

A estratégia de lançar pacotes de comida por via aérea, adotada por países como Jordânia e Emirados Árabes Unidos, foi duramente criticada por organizações humanitárias. Relatos apontam que vários civis foram feridos ao tentarem acessar os paletes, que caem de forma desordenada em áreas de deslocamento, gerando tumultos.

“Gaza se transformou em um laboratório de testes. Cada tentativa fracassada de alimentar a população serve apenas para desviar o foco da responsabilidade de Israel pela fome”, declarou um porta-voz do Nutrition Cluster.

Militares israelenses seguem avançando

Apesar das pausas anunciadas, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que as operações militares continuam: “Estamos avançando na luta. Seja qual for o caminho, seremos forçados a permitir ajuda essencial, mas continuaremos até destruir o Hamas.”

Desde outubro de 2023, a ofensiva israelense já matou mais de 59.800 pessoas e deixou quase 145 mil feridos em Gaza, segundo dados do Ministério da Saúde local. Ao mesmo tempo, 133 palestinos morreram por desnutrição, incluindo 87 crianças.

ONGs e diplomatas denunciam manipulação humanitária

A organização israelense Gisha, defensora da liberdade de movimento dos palestinos, afirmou que as pausas humanitárias representam um “aumento mínimo” da assistência e estão longe de responder à catástrofe.

O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, também denunciou uma campanha de desinformação do governo israelense para desacreditar as organizações da ONU e tentar assumir o controle da ajuda.

“Não há provas de desvio de ajuda pelo Hamas. As acusações visam apenas sabotar a reputação da comunidade humanitária e justificar um esquema politicamente motivado”, disse Lazzarini.

Cessar-fogo imediato é o único caminho viável

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, afirmou que os anúncios de Israel são “muito tardios” e insuficientes: “Precisamos de um cessar-fogo que acabe com a guerra, permita a libertação de reféns e viabilize a entrada de ajuda por terra sem obstáculos.”

Cindy McCain, diretora do Programa Mundial de Alimentos da ONU, reforçou a urgência: “Temos equipes e comida suficiente. Precisamos de acesso contínuo por terra. A população de Gaza precisa de muito mais do que alimentos jogados do céu.”

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