Brasil celebra bicentenário do nordestino, criador do I-Juca-Pirama, um dos maiores intelectuais da história

Como numa mitológica tragédia grega ou numa obra da literatura Russa de Tolstoi ou Dostoievski, o Brasil do século XIX tinha sua saga literária a altura, na forma de poema satírico, denominado “I-Juca-Pirama”. Nela, o autor Gonçalves Dias, usava o termo “I” que em Tupi significa “aquele que iria morrer; predestinado a morte”, para contar o ocaso de Juca Pirama, o último da tribo vivo em seus derradeiros momentos antes da inexorável morte. Depois, a Globo pegaria este mesmo nome para batizar um célebre personagem de igual morte misteriosa na novela “Salvador da Pátria”. A fonte desta inspiração tem 200 anos.

O Nordeste e todo o Brasil está celebrando justamente nesta semana os 200 anos de nascimento de um dos maiores intelectuais do país e ícones da cultura nordestina. Trata-se de Gonçalves Dias. Poeta, advogado, professor, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro, nasceu em 1823 no Maranhão e teve um papel fundamental na construção de uma identidade nacional brasileira, já que a independência ocorreu um ano antes do seu nascimento.

Ele também foi um dos principais representantes do romantismo tupiniquim e buscava nos seus escritos expressar uma nacionalidade genuinamente brasileira. Embora o negro não fosse considerado parte da formação da nação brasileira no início do romantismo, o que só aconteceria na última fase do movimento, com Castro Alves, um poeta que exaltava a liberdade. A função dos primeiros românticos – especialmente, de Gonçalves Dias – foi consolidar o romantismo e, por consequência, consolidar a ideia de nacionalidade brasileira. Celebrar os 200 anos de nascimento de Gonçalves Dias significa homenagear um pioneiro, não só do ponto de vista de uma literatura verdadeiramente brasileira, mas no sentido da construção da ideia de nacionalidade brasileira, mesmo que com a menor importância do Negro nos seus enredos – já que até este aspecto compõe também nossa história e identidade. Ele mesmo não pode se casar com seu amor por ser mestiço.

Conheça mais sobre a obra de Gonçalves Dias

Gonçalves Dias foi autor de poemas famosos como Canção do Exílio e I-Juca-Pirama. Formou-se em direito em Coimbra, Portugal, onde teve contato com escritores românticos portugueses. Voltou ao Brasil em 1845 e se destacou no meio literário. Viajou frequentemente para a Europa por motivos de trabalho e saúde. Morreu em 1864, vítima de um naufrágio na costa do Maranhão.

Sua obra poética abrange os gêneros lírico e épico, com temas variados como o indígena, o amor, a natureza, a pátria e a religião. Sua poesia amorosa foi inspirada por Ana Amélia Ferreira do Vale, com quem não pôde se casar por ser mestiço. Sua poesia sobre a natureza expressa sua admiração pelas florestas e pelo sol, bem como sua saudade da infância e da terra natal. Sua poesia épica celebra os feitos heroícos dos povos indígenas. Gonçalves Dias é considerado o poeta nacional do Brasil.

Do ponto de vista estético, Gonçalves Dias tinha uma poesia bem elaborada, que adaptou a formação intelectual que ele recebeu na Europa, principalmente em Portugal, para o espírito brasileiro. Ele trazia uma formação intelectual sólida feita em Portugal, e essa formação sólida estava a serviço da criação de uma poesia brasileira nos termos daquele momento da primeira metade do século 19, no Brasil.

Indianista

A poesia nacionalista de Gonçalves Dias também se relaciona com a fase indianista. Além de versar sobre as paisagens brasileiras, o maranhense valoriza o indígena do país. Mas, enquanto José de Alencar, na prosa, transforma o indígena em um personagem muito específico da literatura nacional, Gonçalves Dias faz algo diferente. Ele não transforma o indígena em um personagem, mas em um símbolo. A figura indígena retratada pelo poeta é do primeiro homem brasileiro efetivamente, como uma entidade que, além de nobre, forte, viril, é capaz de suportar as maiores adversidades.

AspectoInformação
AutorGonçalves Dias
MovimentoRomantismo
PapelConstrução de uma identidade nacional brasileira
NacionalidadeMaranhão – Nordeste – Brasil
FormaçãoAdvogado, professor, jornalista, etnógrafo e teatrólogo
EstéticaPoesia bem elaborada que adaptou a formação europeia para o espírito brasileiro
Homenagem200 anos de nascimento de Gonçalves Dias
FaseIndianista
TemaPaisagens brasileiras e indígena brasileiro
SímboloIndígena como o primeiro homem brasileiro efetivamente, nobre, forte, viril e capaz de suportar as maiores adversidades

Fonte: Agência NE9 com Portal Raio X das Notícias, por Renato Martins

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